domingo, 8 de junho de 2025

 

Pois então não esperem de mim

grande ciência.

Em abono da verdade, este meu compromisso

com a vida,

tantas vezes permeável,

Tantas vezes fugaz,

fez de mim soldado

numa guerra que

sabia

de antemão

perdida.

 

Se é natural

que os dias me escorreguem

das mãos sem o apertar do gatilho?

Talvez.

Como os beijos e as flores,

os moldes e os lugares,

o copo e o vinho.

 

 

Deixem-me, por isso, brindar a este tempo

emprestado, que as taxas de juro

andam pela hora da morte,

e eu quero acreditar

que estou longe,

muito longe,

do destino.


Maria da Fonte

quarta-feira, 9 de abril de 2025

 


O mundo arde

aqui mesmo ao meu lado.

Apesar das advertências,

os homens teimam em plantar

eucaliptos que ocupam pouco a pouco

 o lugar da multidão.

 

E eu, com o olhar desarmado,

procuro urgentemente

uma janela,

mas temo que o vento,

sem comando,

me desarticule

o bater do coração.

 

Maria da Fonte

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

 


                                                                                            Talvez a mão esquerda

vá sem jeito

e a direita não seja mais o que era.

 

Talvez uma estrela mais a norte,

ou a norte a luz que entendas seja rara.

  

Talvez o declive do teu braço

seja o acaso ou só delicadeza,

e o tempo que medeia cada traço

seja a brisa que te leva ou te separa.

  

Talvez o engenho, meu amigo,

esteja na arte da saber arredondar

as formas planas do teu dia

no rosto limpo

da pedra lapidar.


Maria da Fonte