terça-feira, 18 de janeiro de 2022


 

«Dobrada entre os crocodilos»

(Adília Lopes)

 

Sempre que a noite vem de véspera,

enrosca-se como um embrião,

deixa cair os braços

na neblina,

os olhos perdem-se na rota.

 

As palavras param no vagar dos gestos,

as horas morrem-lhe na boca.

 

E como se não bastassem

as calças puídas

 e a sombra tímida nos dedos,

os dias afundam-se nos bolsos.

 

A ausência chega rouca.

 

Maria da Fonte

 

domingo, 2 de janeiro de 2022

 




Avó,

deixa o tacho sossegado

e vem refastelar-te no veludo

encardido

da vida corriqueira.

 

Olha, avó,

um acrobata,

um sentado à porta do paraíso,

outro que chama ao vesúvio

cogumelo.

 

Que macios ficam os dias

sem Pompeia!

 

E os homens em ponto caramelo.

 

Maria da Fonte