sábado, 9 de outubro de 2021

 



Aporto no espelho o rosto engelhado.

Imagino canais e um barco de junco.

Conservo ainda nas mãos tiritantes

a escova de nylon

e o vacilar do vento.

 

Do detalhe do barco ao grande plano

das madeixas no rosto

e as rugas ao fundo,

ressaltam os lábios a sulcar as ondas,

os olhos redondos

e o mapa do mundo.

 

Um rímel, um lápis,

um batom. Talvez.

Que nos intervalos das canções que levo,

 no espelho que tenho,

só morra uma vez.

 

Maria da Fonte

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra10439/mulher-no-espelho