segunda-feira, 17 de outubro de 2022

 



O que eu queria

era fazer dos teus olhos escuros e parados

uma ponte.

Imprimir janelas nos escombros,

erguer pilares

e tudo o que é suposto.

 

O que eu queria era que tu

 restaurasses, do drama subterrâneo,

as réplicas de Van Gogh.

Que limpasses os homens de farrapos

e as manchas de chumbo.

 

O que eu queria era que tu me falasses

das vindimas

e que o sol coubesse inteiro

e limpo

no teu rosto.

 Maria da Fonte

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

 

Aquietam-se nos meus olhos

as árvores secas e a lua

ainda morna nos telhados.

 

Atravesso as cinzas da batalha,

a vida dói-me e prende-me neste adeus.

 

Parece tudo morto à minha frente.

Os pássaros encolhem-se nas asas,

as crianças às janelas pedem versos.

 

Eu com esta tosca poesia,

e a terra sem um pedaço de céu.


 Maria da Fonte