sábado, 27 de fevereiro de 2021

 


Com as palavras que me deste

fiz um rascunho.

Guardei um abraço por instinto.

Depois, deixei cair as mãos,

atravessei os dias,

envelheci por aí o pensamento.

 

Agora, que o silêncio me alaga os dedos

 e os  braços estão sem margens,

podia passar tudo a limpo.


Maria da Fonte

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

 


Difícil

é guardar-te na parede

sem o cheiro sequer do teu cansaço.

E os meus dedos cravados na moldura,

imaginar-te partir sem um abraço.

 

Difícil

é colar o meu ouvido ao teu medo

e fingir que, distraída, não ouvi.

Passar os olhos de pavor pela parede

e sentir que esse pavor vinha de ti.

 

Difícil

 é deixar cair o choro

no silêncio da parede que o colheu.

Encostar o teu retrato ao meu peito

e pensar que o meu choro era o teu.

 

 Maria da Fonte