sexta-feira, 18 de outubro de 2024



Não peço licença

à cobra que me calça

nem lanço palavra

a qualquer borboleta.

 

Não permito o voo leve

da andorinha

com ares de senhora

de quem vai e vem.


Enfada-me a velha

que insiste em ficar

e as crianças que embalam

o bordado de alguém.


Arrelia-me o galo a cacarejar

pelos cantos do vento

sem clave de sol

e sem fado na voz.

 

Não suporto os gatos

pelas pedras do pátio,

nem o bife de vaca

cortado em viés.

 

Cuspo quando sinto

os ossos na boca

sem deslize algum,

ou qualquer pirueta.


Soletro devagar,

haja quem me ouça,

que eu sou o mundo e o mundo é,

sem pedir licença,

a minha silhueta.

 

 

Maria da Fonte


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