Quando eu morrer, Cecília,
talvez os galos não cantem mais à
minha volta,
talvez não haja brisa, nem mãos
delicadas,
que já não é moderno,
só pilares de cimento e frases largadas
de valas, pedras, pó, pás
e larvas na boca.
Quando eu morrer, Cecília,
não quero as mãos cruzadas no
peito,
um sorriso de seda
e um vestido de roda bordado
inglês,
antes uma tigela de marmelada na
boca
a desafiar as formigas,
um pregão nos olhos
e as mãos soltas
para coçar os pés.
Quando eu morrer, Cecília,
diz-lhes que não precisam de me
medir os quadris
para ajustar o tecido.
Lembra-lhes ainda, Cecília,
(talvez eles não tenham dado por
isso)
que eu morri tanta vez
dentro do mesmo vestido.
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