Ontem
inventei o espanto
quando, num jogo de palavras,
me falavas dos meninos que criaram
a fome
para maçar a gente de família,
com pia de batismo,
nome e sobrenome.
Ontem
estava sem o tempo contado
e uns trocos no bolso
para comprar cerveja.
Por isso, poeta,
me embebedei de toda a
injustiça do mundo.
Ontem
afiei o lápis desnutrido
como lâmina
e cortei os dedos,
um a um,
a quem, por vício ou desgarrada,
mutilou a mulher
que podia ter sido
minha mãe.
Agora,
enquanto a tarde me morre na folha
e esta gente se empilha
num fora de jogo,
eu imagino-me
empoleirada nas cores de meu país
a recuperar a posse da bola.
Maria da fonte
Adorei o poema, Maria.
ResponderEliminarA sua escrita está cada vez mais profunda e madura.
Abraço