sexta-feira, 26 de agosto de 2022

 



Como tu sabias que havia outra gente,

de raízes frágeis e nome vulgar.

Gente empoleirada

em dois palmos de tarde

e vagões de carga.

De corpos tão magros,

quase sem lugar.

 

Como tu sabias das últimas chuvas,

dos pés dos meninos cobertos de pó,

dos tanques de guerra,

de abrigos escuros,

da morte que tarda,

do cheiro a pólvora,

da medida exata, do tamanho de tudo.

 

 

E como tu sabias tão airosamente,

 de olhos fechados e sem soletrar,

arquivar a gente.

 

 Maria da Fonte

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