Ao fim da minha rua 
há um violino de peito maciço e
ancas largas.
Pela madrugada brinda-nos com
Bach,
às oito da manhã afina as cordas.
Depois há musical em digressão.
Pregas vocais abertas como
arcadas, homens de bocas disformes 
às janelas, mulheres em varandas
desgrenhadas. 
 
No quarto andar, em jeito de
soprano,
há pelas cadeiras toalhas e um
tacho.
Da janela guilhotina, com ares de
bilheteira,
sai um penálti em barítono 
e um baixo.
Em ponto, um som metálico e fumarento
e o trecho de um bacalhau à brás.
Em ré, uma corda descontrolada 
e a silhueta agoirenta de um rapaz.
Soltam-se as vozes. 
Nessa hora, cai o pano. As notas
musicais 
saem de cor.
O violino aveludado jaz sem formas.
O barítono, pela madrugada, em sol
maior.
 

 
 
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