Eram oito em ponto da manhã,
eu circundava um autocarro na central.
O jardineiro de minha mãe (belo galã!)
rumava sem aviso à capital.
Tinha-me dito um dia, aborrecido,
ao dividir seis dentes de leão,
que já os tinha contado e dividido
oitenta vezes pelos dedos da mão.
Não suportava as contas matinais
que minha mãe, ao rubro, lhe pedia.
Que era melhor ciências naturais,
depois, e só depois, biologia.
Vi de soslaio fugir a empregada
aos encontrões e gritos entre a gente.
Que era formada e mais do que formada,
que minha tia a corrigia sempre.
Acutilada, também eu relembrei
aqueles longos anos sem aumento,
o pão de ló roubado a minha mãe
e o acesso direto ao parlamento.
Impaciente, comprei o meu bilhete.
Imaginei os dois em estado bruto.
Eu alojado num qualquer palacete,
eles a ler num qualquer viaduto.
E já com tiques
altivos do poder,
lá fomos nós
então de boa fé.
Eu estendia o
contrato para ler,
e encobria ao
de leve o rodapé.
Maria da Fonte
Sua postagem foi uma adição bem-vinda à minha lista de leitura. Obrigado por compartilhar!
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