terça-feira, 31 de agosto de 2021

 


Por encomenda, articularam-me os gestos.

A rotina de uma mulher sem rosto

que arruma o olhar no fundo da gaveta.

 

Aproveitei as correntes de ar,

dei formas às cortinas,

eco aos pássaros

e carreguei os sonhos para parte incerta.

 

Se me perguntarem o que sobrou de mim,

um espaço despido

nas ranhuras da mão,

um voo nos bolsos

e o amor a uma distância incalculável.

 

Maria da Fonte

terça-feira, 17 de agosto de 2021

 


Imagina que a terra é um planeta

entre papiros, pergaminhos e papéis.

Entre camadas e placas movediças,

medidas calculadas de revistas,

ângulos e perímetros

de jornais.

 

Imagina que a terra é tudo isto.

Marilyn Monroe,

quase um vulcão

na sua saia rodada.

 

E mais tu e eu e biliões

como rastilhos.

 

O flash do tamanho de uma mala.

 

Maria da Fonte

Pintura Edy Freitas

 

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

 








Aqui acaba o ruído mundo.

As mãos cortam as ondas

e os olhos abraçam o mar sem entraves.

 

Eu prossigo em pés de areia até ao poema,

sob olhar atento das rochas em fuga

 

e a cumplicidade, sem raízes, das aves.

 

Maria da Fonte



domingo, 1 de agosto de 2021

 







Nua de peito

porque toda eu sou desnorte

para desolação dos justos.

 

Vergar-me para varrer do corpo este pecado?


Só se for para alongar

 o lampejar lascivo

do decote.


Maria da Fonte