E os abutres chegam como balas
trespassando os cadáveres da desgraça.
Pousam em bandos nas margens da miséria,
fazem o cerco à fome que ali grassa.
Bicam os ossos da carne do outrora,
soltam as garras, afiam a arrogância.
Ingurgitados, num ápice, vão embora…
Tudo em nome da salvação (ou da ganância).
Sucedem-se uns aos outros como larvas,
a devorar os corpos putrefeitos.
Os movimentos dos vermes são perfeitos,
só as horas, infindáveis, são amargas.
E o vaivém dos abutres embala a dor
dos que se deixam comer tão facilmente.
Galardoam-se uns aos outros, solenemente,
e os mortos assistem, sem pudor.
Que noite pode ocultar tal ousadia?
Que dia pode lavar tanta ambição?
Que Terra pode girar sem haver dia?
Que gente pode morrer sem dizer NÃO?
Texto: Maria da Fonte
Imagem: birdstrikepirum.blogspot.com
Olá amiga, um poema que é um grito calado. Os abutres continuam a cercar, quem está indefeso e com fome e o pior é que cada vez há mais. Maravilhoso poema com perguntas ás quais só o povo pode responder. Penso que mais cedo ou mais tarde vai fazê-lo. Beijos com carinho
ResponderEliminarEm nome da dignidade, é preciso gritar, bem alto, a nossa indignação.
ResponderEliminarComo eu compreendo esse grito!
Beijo :)
Agradecemos a sua visita, Maria da Fonte, e a oportunidade que temos em conhecer a sua poesia, pungente e direta, tocante e bela.
ResponderEliminarUm grande abraço,
Bíndi e Ghost
Fabuloso poema saído da alma feminina que aqui saúdo efusivamente com a emoção de todas as palavras...bravo Maria Fonte com teu olhar de humanidade!!! partilhei na página MÁTRIA...
ResponderEliminarbeijinhos amiga, do
jrg
Obrigada, João, pela tua simpatia.
ResponderEliminarMaria,
ResponderEliminarUm poema que eu gostaria de ter escrito.
Contém nas suas tocantes e belas palavras tudo o que me vai na alma que me sufoca e dilacera.
Grata por não calar a sua voz num momento em que precisamos todos de dizer Basta!
Um grande beijinho.
excelente ! seus poemas sao muito bons. Beijos
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