sexta-feira, 14 de junho de 2013

Para lá dos muros



Se quiseres saber onde moro,
Não tacteies o corpo dissoluto das pedras,
Não devasses a paciência do olhar na nébula geográfica
Das cidades imponentes,
Procura-me antes nas margens do poema,
Onde as palavras ditam a desordem
Dos subúrbios e as ideias mendigam um pedaço de paz.

Maria da Fonte

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Travessia



Subo e desço a montanha
Pelos trilhos do incerto.
No topo fico tamanha,
Só no sopé eu desperto.

Neste subir e descer
A encosta irregular,
Vejo e deixo de ver
Os trilhos que hei de pisar.

Cerro os olhos, pouso a mão
Nos ombros largos do céu.
Resvalo, caio no chão,
Tudo o que tinha partiu.

Grito, maldigo o destino
E a montanha orbicular.
Deixou-me chegar ao cimo
Para depois me empurrar.

Agora no chão tão frio,
Espero que chegue Caronte,
Não para passar o rio,
Mas para subir ao monte.

Maria da Fonte