Aporto no espelho o rosto engelhado.
Imagino canais e um barco de junco.
Conservo ainda nas mãos tiritantes
a escova de nylon
e o vacilar do vento.
Do detalhe do barco ao grande plano
das madeixas no rosto
e as rugas ao fundo,
ressaltam os lábios a sulcar as ondas,
os olhos redondos
e o mapa do mundo.
Um rímel, um lápis,
um batom. Talvez.
Que nos intervalos das canções que levo,
no espelho que tenho,
só morra uma vez.
Maria da Fonte
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