Não peço licença
à cobra que me calça
nem lanço palavra
a qualquer borboleta.
Não permito o voo leve
da andorinha
com ares de senhora
de quem vai e vem.
Enfada-me a velha
que insiste em ficar
e as crianças que embalam
o bordado de alguém.
Arrelia-me o galo a cacarejar
pelos cantos do vento
sem clave de sol
e sem fado na voz.
Não suporto os gatos
pelas pedras do pátio,
nem o bife de vaca
cortado em viés.
Cuspo quando sinto
os ossos na boca
sem deslize algum,
ou qualquer pirueta.
Soletro devagar,
haja quem me ouça,
que eu sou o mundo e o mundo é,
sem pedir licença,
a minha silhueta.