sábado, 22 de outubro de 2016

Deixa-me ser




Pensas-me virada do avesso
quando costuro o poema
e procuras nas linhas do meu corpo
o verso preso.

Alinhavas cada retalho de mim
como se eu fosse um caso perdido.
Tu
que no poema vives paredes-meias
comigo.

Maria da fonte
Imagem da internet

sábado, 15 de outubro de 2016

Rotina



Despejas um gemido na mesa.
Quantas manhãs cabem nos teus olhos?

Procuras nas mãos o rascunho do mundo,
os teus dedos trémulos peregrinam vertiginosamente a cartilha.
Arrancas da garganta lápis,
mas, por temeres rasuras,
aportas nos dentes medos.

Podias ser uma ilha.

Deixas cair os braços na direção da morte
E nem um traço.
As ruas arrastam-te com outros ao sol-posto,
e tu não saltas com medo de perder o equilíbrio das horas.

Depois de tudo, é sempre
inverno no teu rosto.

Maria da Fonte
Imagem: «FADESTINO»
Rosa Maria Duarte