sexta-feira, 29 de maio de 2020



Por um fio de luz
desci pouco afinada.

Nada entendia então de partituras,

nem de acordes maiores às varandas,
em horas paradas
e pautas quase puras.


Na timidez, improvisei um grave,
sem o detalhe preciso da altura.

E nos soluços afinei a voz,
acomodei-me discretamente às cordas,

puxei a medo a linha do horizonte,

reajustei-a depois à tessitura.



Maria da Fonte

Imagem retirada da Internet 


sábado, 9 de maio de 2020







Não sei a que livros roubei

as âncoras   e os abraços, que barco eu desenhei

no orvalho do meu rosto e o que agarrei aos mastros.

 

Não sei que pilhagens fiz e onde ajustei o perigo,

em que margens atraquei, que palavras contornei,

que carga trouxe comigo.

 

Não sei se foram os ventos ou as correntes primeiro,

nem sei se o barco que fiz me deu cadastro sequer

de pirata ou marinheiro.

 






Maria da Fonte

Imagem retirada da Internet

Só pode ser um poema

Lanço ao mar o poema, sem nomear capitão,
sem mapa que amanhe as ondas
e as premissas da razão.

Largo-o em alto-mar, desenho-lhe a aflição.
Dou um bote a cada homem e o esboço de uma rota
 sem nenhuma convenção.


Maria da Fonte
Imagem da Internet

domingo, 3 de maio de 2020

Mãe




Mãe, este desarticular de dedos
que me deixa de braços pendurados
e cálculos agarrados à garganta,

esta sensação de dor que mal descrevo,


este pavor tremendo, mãe, que tenho
de te deixar
as mãos sujas de medo.

Maria da Fonte