domingo, 16 de julho de 2017

Eu pertenço ao decote dos teus olhos



Nos teus olhos há decotes que me levam
e as horas são mais sólidas assim.

Eu entro no vestido onde me faço, tu pintas-me
entre a ausência e o que há em mim
e finges morrer exausto em cada traço.

Abres os braços para rasgar silêncios, num risco mais preciso
que o meu verso. Amacias o roteiro dos meus dedos,
deixas pulsar nas mãos o universo.

Eu pertenço ao decote dos teus olhos. Faz-me viagem
nas cores do teu pincel. Depois, ao fundo do céu,
pinta-me a morte, como um ditongo de tinta no papel.

Maria da Fonte

Pintura de Mutes

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