segunda-feira, 21 de março de 2016

Reentrâncias



Traço o mapa
nas nervuras,
limpo os pontos cardeais.

Ao limbo
de cada folha,
acrescento um pouco mais.

Tiro a redoma das coisas,
sigo qualquer
reentrância.

Não morro,
vou dormitando
na moldura da distância.

Seguro a vida nos dedos,
volteio os sonhos
na mão.

Os dias
nascem bem perto
da minha imaginação.


Maria da Fonte







sábado, 5 de março de 2016

Ponte de Lima



Neste lugar


Neste lugar,
onde o céu se agacha em cada rua
e o sol se desprende
pelos montes,
há telas
que se erguem como homens
e poetas
que se soltam como fontes.


Neste lugar,
onde o olhar sacode a história
e as palavras
fermentam nos umbrais,
há paredes pinceladas
de memórias
e lendas torneadas
nos beirais.


Neste lugar
onde torres tocam nuvens
e Deus ajusta,
incrédulo, cada olhar,
há mãos
que se estendem às janelas
e estrelas
que se deixam apanhar.

Neste lugar,
onde o mundo vem dormir
e o tempo
o envolve num abraço,
há um rio obstinado em não partir,
e a gente,
de partida,
abranda o passo.

Maria da Fonte