domingo, 18 de dezembro de 2016
O Natal começa todos os dias amanhã
Leva com ele o irmão mais novo. Sobe num passo apressado. Talvez todo o tempo do mundo não chegasse para mostrar o Natal do outro lado.
Ao cimo da montanha, olha de frente os homens mascarados de soldados. Entre o silêncio das coisas transparentes, jura ter visto ao longe os três reis magos. E, como se quisesse acompanhá-los, estende-se entre os ramos de medronhos. Um clarão no céu abre a janela. Em cada bomba, uma rajada de sonhos...
Os dedos dos meninos seguram cânticos, a lua pousa serena lá no céu,
pela encosta a vida num ir lento.
A noite é o irmão mais velho que partiu.
Maria da Fonte
sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
A propósito do Manifesto Anti-Dantas
Posto que Almada mentiu no manifesto que fez,
em prol do Dantas, eu manifesto-me outra vez.
O Dantas não é cigano, nem burro, nem impotente!
Dou por certo, não me engano. É a nata da nossa gente.
Burro? Nunca! O Dantas? Nunca!
Um mustang americano!
O Dantas é um selvagem… mas nem burro, nem cigano.
Se há passadeira vermelha, se há Hollywood, se há cinema,
o Dantas, a quatro tempos, avança e entra na arena.
Se há amazonas, melhor. Sinal ao canto direito.
O Dantas escreve de cor. Garanto, tem muito jeito.
O Dantas escreve romances em poses, feitas à pressa,
que servem qualquer pronome. A gramática não interessa.
Alcoforado? Podia! O Dantas escreve o que quer.
Na penumbra do mural,
o Dantas de a a z não se cansa de escrever.
Se há cavaleiro, há romance. Há romance decidido.
O Dantas é tão versátil, que escreve em qualquer sentido.
Mestre de Avis, o herói. Romance de cavalaria.
Ainda que digam por aí,
O Dantas? Quem o diria?!
É falso! Juro, é falso! Os concubinos? Nunca! Não!
O Dantas só quer escrever. Está de atalaia em murais,
na busca de inspiração.
Um homem tão cuidadoso. Por rotina, acorda às tantas
e põe like em todo o lado.
Se o Dantas não me quiser,
Eu quero parir um Dantas!
O Dantas é um discóbolo. Perfeito! Isso lhe basta.
Entende de modas. Se entende!
Deixou crescer, para espanto, uma vassoura já gasta.
No rosto, fica-lhe bem. No corpo, não há sinal.
Ainda há quem diga por aí que o Dantas se veste mal.
O Dantas não tem ceroulas. Estilo sobremaneira.
Espreitem o mural dele.
Sabemos, chega-lhe bem uma folha de oliveira.
E se o Dantas tem na cabeça duas asas de alcatraz,
é o turbante, com certeza, das viagens
que ele faz.
O Dantas é um ricaço. Digo e sei o que digo.
Uma vivenda, piscina, três carros topo de gama.
O Dantas é bom partido.
O mural não engana.
O Dantas é um poeta! Um cavalheiro! Um senhor!
O Dantas é um rodizio! Um rodízio do melhor!
E se o Dantas fica por aqui, são estas cordas vocais.
O Dantas é …O Dantas é…
Não posso! Não posso mais!
Maria da Fonte
em prol do Dantas, eu manifesto-me outra vez.
O Dantas não é cigano, nem burro, nem impotente!
Dou por certo, não me engano. É a nata da nossa gente.
Burro? Nunca! O Dantas? Nunca!
Um mustang americano!
O Dantas é um selvagem… mas nem burro, nem cigano.
Se há passadeira vermelha, se há Hollywood, se há cinema,
o Dantas, a quatro tempos, avança e entra na arena.
Se há amazonas, melhor. Sinal ao canto direito.
O Dantas escreve de cor. Garanto, tem muito jeito.
O Dantas escreve romances em poses, feitas à pressa,
que servem qualquer pronome. A gramática não interessa.
Alcoforado? Podia! O Dantas escreve o que quer.
Na penumbra do mural,
o Dantas de a a z não se cansa de escrever.
Se há cavaleiro, há romance. Há romance decidido.
O Dantas é tão versátil, que escreve em qualquer sentido.
Mestre de Avis, o herói. Romance de cavalaria.
Ainda que digam por aí,
O Dantas? Quem o diria?!
É falso! Juro, é falso! Os concubinos? Nunca! Não!
O Dantas só quer escrever. Está de atalaia em murais,
na busca de inspiração.
Um homem tão cuidadoso. Por rotina, acorda às tantas
e põe like em todo o lado.
Se o Dantas não me quiser,
Eu quero parir um Dantas!
O Dantas é um discóbolo. Perfeito! Isso lhe basta.
Entende de modas. Se entende!
Deixou crescer, para espanto, uma vassoura já gasta.
No rosto, fica-lhe bem. No corpo, não há sinal.
Ainda há quem diga por aí que o Dantas se veste mal.
O Dantas não tem ceroulas. Estilo sobremaneira.
Espreitem o mural dele.
Sabemos, chega-lhe bem uma folha de oliveira.
E se o Dantas tem na cabeça duas asas de alcatraz,
é o turbante, com certeza, das viagens
que ele faz.
O Dantas é um ricaço. Digo e sei o que digo.
Uma vivenda, piscina, três carros topo de gama.
O Dantas é bom partido.
O mural não engana.
O Dantas é um poeta! Um cavalheiro! Um senhor!
O Dantas é um rodizio! Um rodízio do melhor!
E se o Dantas fica por aqui, são estas cordas vocais.
O Dantas é …O Dantas é…
Não posso! Não posso mais!
Maria da Fonte
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
Outros voos
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
No amor espero por ti
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
O palhaço
O palhaço
vive no parapeito da palavra,
enquanto se veste de lilás e reinventa o amor.
O palhaço
tropeça em todos os lugares e nunca retrocede.
Diz destinos de cor,
sabe medir distâncias e construir
alicerces no rosto de cada qual.
O palhaço
sai de cena a trautear um canto
numa espécie de oração universal.
As palmas. Só as palmas se ouvem entretanto.
Maria da Fonte
quarta-feira, 30 de novembro de 2016
Deus viajou
Eras feliz quando o arroz caía do céu
e as mãos de Deus talhavam relâmpagos
no interior da terra.
No dia em que as nuvens desceram,
e tu alteaste tacões para espreitar
o lado mais secreto do pensamento,
avistaste searas.
Se sobrepusesses as linhas da mão em cordilheira,
depressa chegavas ao Olimpo.
Deus havia de andar por perto,
e tu agradecias, como bom discípulo, o teu sustento.
(tinhas tantas manhãs dentro de ti,
e no teu peito cabiam histórias pacientes)
Deus viajou, dizem os outros.
E atiram-te palavras como grãos.
O tempo gastou-te os dentes.
Maria da Fonte
Imagem retirada da internet
domingo, 20 de novembro de 2016
Destino
É a morada dos limpos que se acende
na retina, se entrevê nas linhas retas,
nas curvas se dissemina.
É a voz rouca das portas, cheia de correntes
de ar, que amacia as palavras
e que as deixa passar.
É a textura dos dedos que se estende
de repente na projeção de silêncios
que te atingem mortalmente.
É o código postal que te leva cego e mudo
pelas estradas onde a vida
já fica longe de tudo.
Maria da Fonte
Imagem: Salvador Dali - Destino
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
sábado, 22 de outubro de 2016
Deixa-me ser
sábado, 15 de outubro de 2016
Rotina
Despejas um gemido na mesa.
Quantas manhãs cabem nos teus olhos?
Procuras nas mãos o rascunho do mundo,
os teus dedos trémulos peregrinam vertiginosamente a cartilha.
Arrancas da garganta lápis,
mas, por temeres rasuras,
aportas nos dentes medos.
Podias ser uma ilha.
Deixas cair os braços na direção da morte
E nem um traço.
As ruas arrastam-te com outros ao sol-posto,
e tu não saltas com medo de perder o equilíbrio das horas.
Depois de tudo, é sempre
inverno no teu rosto.
Maria da Fonte
Imagem: «FADESTINO»
Rosa Maria Duarte
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
Identidade
Eu sou a porta
entreaberta
das paredes
onde habito
entre o que me morre
em mim
e o que quebra
o infinito
o recorte
do que sobra
entre um
e o outro lado
a precisão
dos sentidos
num ponto
já desfocado
o voo
de cada qual
na falta
de algum voar
onde a palavra
se demora
entre
o ir e o chegar
e é de porta
entreaberta
que eu amo
baixinho tudo
desde as vertigens
da alma
às sombras
rasas do mundo
Maria da Fonte
Imagem da Internet
terça-feira, 30 de agosto de 2016
Enquanto espero por ti
Vieste tarde, eu esperava ao frio
sem sobretudo. Não vás embora,
não vás, fica tão grande o meu mundo.
Não digas que está calor nem
que não há nenhum vento. Garanto
que tenho frio. Repara, vê-me por dentro.
Ele passou, eu senti. Raspou-me
rente ao ouvido. Era uma seta, bem sei.
O resto tenho esquecido.
Não vás embora, não vás, nem grites
tanto assim.Tenho medo desta nuvem
que se estende atrás de mim.
Diz ao sol que não morra, faz um sorriso
no chão. Do resto, eu não me lembro,
se tantos anos já vão.
Finge que tens no teu ventre a lua
lá hospedada e deixa-me adormecer
nos teus braços enrolada.
E se o teu calor cobrir o meu corpo
nos teus braços, eu posso então partir.
Não chores os estilhaços.
Maria da Fonte
terça-feira, 14 de junho de 2016
Os olhos moram em todos os lugares
E cabe no teu gesto
de cimento
um não sei quê de medo
e de muro.
Para quem vem de longe,
as horas ficam
no teu gemido
raso a quase tudo.
As noites pintam-te o sono
a fundo negro.
O frio embala-te o corpo,
se ficares.
Os dias sulcam
Os trilhos do teu rosto.
Os olhos moram
em todos os lugares.
Maria da Fonte
Imagem da internet
domingo, 29 de maio de 2016
Até ao fio de tudo
terça-feira, 3 de maio de 2016
Que haja tempo nos meus olhos
Fala-me do céu azul
onde pousas a cabeça
e da esfera dos teus olhos
onde me vejo suspensa.
O teu tronco enviesado
vou conhecendo de cor.
Há pássaros no teu olhar
e tudo em ti sugere
que o mundo fica mais leve,
ainda que bem maior.
E se o baloiçar dos teus ramos
me vai causando estranheza,
que haja tempo nos meus olhos
para amar a natureza.
Maria da Fonte
Imagem da Internet
segunda-feira, 25 de abril de 2016
Por vezes fico a olhar o mundo,
perdida nos meandros interiores.
Cinzelo ideias rasgadas, as palavras crescem
e o sonho fica à distância de um grito.
Não importa se só a voz pode transpor silêncios,
Se aos pés não lhes é permitido descolar das pedras.
Há sempre brechas na noite por onde se esgueiram
réplicas, basta que ao cimo de nós a lua cerque os corações famintos
e sobre eles deposite retalhos de luz.
Maria da Fonte
Cartoon da Internet
sexta-feira, 15 de abril de 2016
Doutor
Doutor é aquilo que sou.
Sou doutor e pouco mais,
O nome que alguém me deu
E as impressões digitais.
Acima ponha doutor,
Ao meio ponha outra vez.
Encolha mais, por favor,
Os nomes de quem me fez.
Já me pediu o retrato,
O dedo da minha mão.
Agora, tanto aparato!
Sem doutor, não há cartão!
Não grite, não vale a pena,
Pois…que doutor cabe bem.
Faça a letra mais pequena
E corte o nome da mãe.
Agora já está melhor,
Mas se fossem garrafais...
Alguns não sabem de cor.
Corte o nome dos dois pais.
Já posso sair em paz,
Mas olhem que custou tanto.
Alto! pois volto atrás,
Deixei uma linha em branco.
Fale mais baixo, mulher,
Não disse, porque não vi.
Doutor não é de quem quer,
Ponha mais doutor aqui.
Maria da Fonte
Imagem retirada da Internet
segunda-feira, 21 de março de 2016
Reentrâncias
Traço o mapa
nas nervuras,
limpo os pontos cardeais.
Ao limbo
de cada folha,
acrescento um pouco mais.
Tiro a redoma das coisas,
sigo qualquer
reentrância.
Não morro,
vou dormitando
na moldura da distância.
Seguro a vida nos dedos,
volteio os sonhos
na mão.
Os dias
nascem bem perto
da minha imaginação.
Maria da Fonte
sábado, 5 de março de 2016
Ponte de Lima
Neste lugar
Neste lugar,
onde o céu se agacha em cada rua
e o sol se desprende
pelos montes,
há telas
que se erguem como homens
e poetas
que se soltam como fontes.
Neste lugar,
onde o olhar sacode a história
e as palavras
fermentam nos umbrais,
há paredes pinceladas
de memórias
e lendas torneadas
nos beirais.
Neste lugar
onde torres tocam nuvens
e Deus ajusta,
incrédulo, cada olhar,
há mãos
que se estendem às janelas
e estrelas
que se deixam apanhar.
Neste lugar,
onde o mundo vem dormir
e o tempo
o envolve num abraço,
há um rio obstinado em não partir,
e a gente,
de partida,
abranda o passo.
Maria da Fonte
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
Colem pedaço a pedaço
Visto palavra
a palavra,
vou mudando de estação.
Gasto a distância
das coisas
só com um lápis na mão.
Salpico nuvens
no céu,
ponho chuva
sobretudo.
Se houver água que me lave,
a vida cola-se a tudo.
Na mão
seguro estrelas,
deixo afogar
o olhar
e sigo pelas entrelinhas
sem pressa de me lavar.
Mas, na deriva
dos ventos,
a vida,
como um pião,
vai rodopiando à toa
e depois cai-me no chão.
Colem pedaço a pedaço,
como convirá,
decerto.
Não me lavei,
é verdade,
mas olhem que fiquei perto.
Maria da Fonte
Imagem da Internet
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