sábado, 1 de março de 2014

Regresso



Levai-me, vento do norte, ao ventre
de minha mãe, falai-lhe da minha sorte,
mas não digais a ninguém.

Se ela, por medo, chorar ou, por culpa,
adoecer, dizei-lhe, para a acalmar,
que eu preferi não nascer.

Só ela me entenderá, só ela
sabe tão bem que a rosa sem a redoma
fica à mercê de quem vem.

No breve correr das horas, onde nunca
sei de mim, dizei-lhe que tenho medo,
que quero o seu ventre, sim.

E antes que gaste o que tenho à procura
do que sou, quero saber ao que venho
no ventre que me gerou.

Pois se hei de voltar um dia ao ventre
de mais alguém, que seja ao ventre da terra
no ventre de minha mãe.


Maria da Fonte
Imagem retirada da internet



5 comentários:

  1. Nunca fomos ouvidos
    do acto de que somos nascidos

    Diz-me outro poeta

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  2. Se nos fosse permitido o regresso ao inicio...

    Gostei muito. Deixo um beijo.
    Sónia

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  3. Tu sabes que acabei de ler e senti um arrepio minha querida amga?
    Ah, como te compreendo! Quantas vezes a única fuga não para nenhuma ilha mas recolhermo-nos outra vez no nosso berço materno para voltar a nascer! Porque já tudo é demais...
    Mas...voltar ao ventre da terra e renascer cada primavera numa flor, numa hera...
    Belo, belo, belo...
    Abraço forte M.!

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  4. Um sentir profundo, em aconchego, que perpassa as geladas florestas da vida...
    Maravilhoso!

    Beijo :)

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  5. Li e reli em completo fascínio, maravilhoso!
    E muito mais poderia dizer deste magnífico poema, porém, calo-me!
    Beijinhos

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