domingo, 17 de novembro de 2013

XVIII Concurso APPACDM de Setúbal

Palavras sem alma



São tantas as palavras que me atiras: decretos
despachos, portarias…Pesam tanto nas pernas arqueadas,
talvez por serem vagas, tão vazias.
Nos passeios estreitos que me levam, não cabem
palavras iguais. Os passeios são de pedras genuínas;
as palavras, penhascos surreais .
Porque trazem o peso do universo, são enormes,
mais pesadas que o meu chão. Sufocam astutamente
o meu silêncio. São imensas, monstruosas, e eu não.

Rasga as folhas escritas, não me esqueças nas entrelinhas
das frases espectrais. De que servem as palavras sem entranhas,
tão vazias, tão enfermas, tão banais?

Melhor o teu olhar, a tua mão, e o caminho
pode ser o que quiser, basta que caminhes a meu lado,
que tu sejas e que me deixes ser.
E chegados ao leito do rio que nos leva, onde tudo
o que foi já não é mais, tu davas-me um pincel
e eu pintava as sombras das almas iguais.

Menção Honrosa
Maria da Fonte