domingo, 27 de maio de 2012
Desassossego
Tenho em mim o desatino entranhado
e devaneio como um louca alucinada,
que tanto embala a multidão ao colo,
como ignora quem a seu lado caminha.
Sou o mundo à sombra dum plátano,
aguardando uma fenda de luz
que me arranque das trevas deste pântano,
que me devolva a chama, dita minha,
mas que nem sei sequer se me seduz.
E que manhã pode contar comigo,
se eu nunca sei como vou acordar?
E que noite me ousará levar,
se eu nem sei se sou, se não sou, se tenho sido?
Às vezes já morri e fico bem no repouso
da alma tão esgotada,
outras vezes tenho medo de dormir,
como se a vida me fugisse
em menos nada.
Texto: Maria da Fonte
Imagem: reencontro.blogs.sapo.pt
terça-feira, 22 de maio de 2012
Não desisto
Embato em labirintos de saber,
onde os reflexos se multiplicam ao infinito.
Não me encontro nessa imensa babilónia
e tenho medo das trevas do meu grito.
Somos tantos e tantos nos espelhos,
das folhas que alicerçam o desmedido,
a querermos uma árvore colossal,
carregada de ilusão e de sentido.
E é nesta vastidão onde me abrigo,
como um mendigo envolto em sofrimento,
que eu me levanto, caio, digo e desdigo,
mas não desisto da torre em movimento.
E mesmo que as paredes majestosas
esmaguem o meu pequeno grão de areia,
não desisto do labirinto das histórias
nem me desvio do canto das sereias.
Texto:Maria da Fonte
Imagem:pnlblogue.blogspot.com
quarta-feira, 16 de maio de 2012
Miragem
Subo os dias
dos dias que se vão,
sem escada, degraus ou corrimão.
Componho a vida
de notas musicais,
e que sei de Mozart, Vivaldi,
Chopin, Strauss, Bach, Verdi
e tantos, tantos mais?
O que conheço dos astros
é tão pouco.
O que ouço dos ventos
é quase nada.
O que escrevo nos livros são miragens
de uma vida fugaz
despenteada.
Não sou músico, nem poeta,
e nem sou mudo.
Sou um misto de verdade
e de mentira,
que, ao som do piano
e da lira, lança ao vento
um punhado
do meu mundo.
Maria da Fonte
O poeta e o anjo, Mário Eloy
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