segunda-feira, 9 de abril de 2012

Maratona


















Deixaram-me no início da meta e gritaram-me um «segue a maratona!». Convenci-me de que só correndo desenfreadamente poderia atingir o fim. Não senti o vento que me batia no rosto, não senti o solo que me impulsionava os passos, não ouvi os aplausos da plateia, corri, corri, corri, tal Forrest Gamp.
Já o cronógrafo marcava meia vida, quando a impaciência das articulações e o peso da consciência me fizeram curvar o olhar e abrandar o passo. O caminho, outrora perene, indómito e sinuoso, tornava-se agora mais fugaz que uma aragem, mais maleável que um sonho e mais leve que um desejo.
Era urgente tomar as rédeas aos dias, agarrar a fé do momento e deixar-me ir pelo sonho; depois, carregar no colo, cuidadosamente, alguns mimos e seguir o rasto de outros. Sim, o rasto de outros! Ou vocês não sabem que nem todos os sonhos se edificam? Alguns ficam-se apenas pelo projeto e nem por isso deixam de ter asas. Estivesse entre nós Sebastião da Gama e dir-vos-ia que nesta viagem o mais importante é a esperança naquilo que talvez nunca teremos. Digam-me lá se a ideia de agarrar um sonho não é muito mais fascinante do que a de o ter na mão. Pois, é neste espaço que medeia entre o querer e o ter que a corrida decorre, é aqui que cabe a cada um dos participantes depositar na balança estes dois princípios e traçar o destino. Quantas vezes atropelamos desesperadamente o querer só para agarrarmos o ter! Valerá a pena? Façam as vossas contas.

Maria da Fonte
wordsaboutit.wordpress.com

3 comentários:

  1. Ah...quantas vezes mais um sonho cheio do que vida vazia!
    Ah, quanto mais tentar abraçar o sonho do que a sua realização insatisfeita!
    E quanto mais ser um sonho, do que ter o sonho...que se desfaz quando a noite acorda!
    E quanto mais não dava para dizer o teu maravolhoso post!
    A tua presença é uma alegria Manela. A admiração é mútua.
    Bjis

    ResponderEliminar
  2. Saudações quem aqui posta e quem aqui visita.
    É uma mensagem “ctrl V + ctrl C”, mas a causa é nobre.
    Trata-se da divulgação de um serviço de prestação editorial independente e distribuição de e-books de poesia & afins. Para saber mais, visitem o sítio do projeto.

    CASTANHA MECÂNICA - http://castanhamecanica.wordpress.com/

    Que toda poesia seja livre!
    Fred Caju

    ResponderEliminar
  3. Há que fazer contas, na verdade.
    Mas é o caminho que mais gozo dá, até mais que a chegada...
    Excelente texto, para reflectir.
    Gostei muito, querida amiga.
    Beijos.

    ResponderEliminar