quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Retrato



















Hoje pintei o meu retrato
na tela do momento que fluía.
Olhei-me nas águas e só via
o trivial, o vulgar, o caricato.
Encolhi o olhar, envergonhada,
das águas que me viam no instante.
Como podia eu ali ver nada
se o meu olhar era firme e confiante?
Virei-me dos avessos e sacudi
um interior que pudesse pintar.
Mais segura agora deste estar,
de pincel na mão, dei cor ao que vi:
o sonhar pintei de lua cheia,
com laivos de loucura e ilusão;
o amor, em forma de teia,
onde aconcheguei o coração;
a arrogância, o ódio e a vaidade
atirei para lá do horizonte.
Gastei o pincel, a tinta, a idade.
Não pude, ou não quis, pintar a ponte.
Maria da Fonte
Imagem: raphaelmarins.blogspot.com

3 comentários:

  1. Gostei da tua pintura poética.
    Continua...
    Beijos.

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  2. Ola Maria,

    Que belo poema, realmente, escreve divinamente.
    Lê-la, é fazer uma viagem através do pensamento.
    Que maravilhosa pintura poética que criou.
    Sem palavras. Apenas gosto, gosto...

    Deixo aqui um excerto de um 'poeminha' meu que escrevi quando era criança porque fala do mesmo tema ou quase, ou seja, envolve "pintura" mas claro, nunca com tanta beleza como as suas poesias contêm:

    "(...)
    Não há cor para a vida,
    Apenas há sinais para se ver,
    Que tanto assinalam o amor
    Como a vontade de desaparecer!
    A tela que tu me pintaste,
    Mostrou-me o lado menos bom
    De querer sentir tudo
    Como se sentir tudo fosse um dom!
    A tela terei que rasgar
    Ou mudar o seu desenho
    Para que possa continuar
    E não deixar meu sonho a meio!"

    Um excelente domingo.

    Bjinhos da sua fã :D

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  3. MARIA QUE LINDO POEMA!!!
    UMA BELEZA, POR DENTRO E DE FORA, TRANSPORTADO PARA TELA!!!

    PARABÉNS!!!

    1 BEIJO LÍDIA

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