terça-feira, 15 de novembro de 2011

Leva-me









Quando em mim tudo acabar, podes levar-me
para o lugar mais recôndito da terra.
Leva-me.
Quando o meu coração não te sentir,
quando os meus olhos abertos não te virem,
quando as minhas mãos não suportarem o peso dos meus sonhos,
leva-me.
Quando em mim só houver raízes,
quando eu não sentir o sopro das estações,
quando nem os pássaros se puderem acalentar nos meus ramos,
leva-me.
Quando as minhas águas estagnarem,
quando no meu leito só houver lodo,
quando o meu rio for um jazigo de peixes,
leva-me.
Quando a aridez do meu solo não deixar crescer papoilas,
quando nem os fertilizantes forem capazes de fecundar o meu chão,
quando os homens semearem no meu cerro a sua pena,
leva-me.

Texto: Maria da Fonte
Imagem: metamorfosetranscrita.blogspot.com

1 comentário:

  1. Eutanásia...?
    Brilhante, querida amiga.
    Saio daqui encantado com as tuas palavras.
    Tem um bom resto de semana.
    Beijos.

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